Pensar com imagens, aprender com memórias.
Caro(a) estudante, nesse item discutiremos um pouco sobre as fontes históricas que foram analisadas e que fundamentam nossos estudos. Para isso, retomaremos algumas definições importantes que você já viu em seu percurso de estudos
As fontes históricas podem ser entendidas como vestígios deixados por grupos humanos ao longo da sua existência. Ou seja, uma fonte histórica pode ser toda produção humana material (pergaminhos, estátuas, construções, textos, etc.) ou imaterial (festas, comemorações, cantigas, costumes, etc.).
A partir das fontes, podemos estudar como diferentes sociedades no tempo e no espaço pensavam a si mesmas. Assim, nos referimos às suas memórias. Significa também dizer que quando olhamos para uma fonte histórica, precisamos investigar quais foram as intenções de quem produziu aquele vestígio, pois, assim como nós, muitas vezes somos diferentes do perfil e feed que montamos nas nossas redes sociais como lembranças, os cronistas, reis e autores ao longo do tempo, muitas vezes contaram suas histórias para atender suas necessidades do momento presente.
Lembrar e esquecer são processos biológicos, mas, também, fenômeno social. Sabemos que nossa vida e personalidade são atravessadas por inúmeras memórias, não é mesmo? Logo, formar nossa identidade passa por esses processos de lembrança e esquecimento.
Eram justamente esses processos sociais e históricos que estavam em questão ao longo da Idade Média Ibérica. E, para podermos conhecer e entender um pouco mais esse fenômeno, estudaremos o caso da Crônica dos reis de Castela (em latim: Chronica regum Castellae) e Foral de Córdova (em espanhol: Fuero de Córdoba).
Chronica regum Castellae
Este documento foi produzido pela chancelaria real de Castela, pelo chanceler e escrivão real Juan de Soria, o bispo de Osma. É uma narrativa que se inicia com a morte do conde Fernán-González em 969, mas centra-se nos reinados de Alfonso VIII (1155-1214, rei de Castela desde 1158) Enrique I (1204-1217, rei de Castela desde 1214) e Fernando III (1201-1252, rei de Castela desde 1217 e de Leão desde 1230), concluindo a narrativa após a conquista de Córdoba (1236).
Fuero de Córdoba
O Fuero de Córdoba é, também, uma produção da política expansionista de Fernando III, escrita pelo mesmo bispo de Osma. Sua versão definitiva está em latim e foi aforada pelo rei, já em Toledo, datada de 8 de abril de 1241, contendo 58 rubricas. A princípio, o que essencialmente muda de uma versão para outra é a adequação do segundo documento aos requisitos da chancelaria, e a presença de elementos norteadores preexistentes no Fuero de Toledo e o Liber Iudiciorum que serve como modelo jurídico, a partir das antigas leis visigóticas traduzidas e adaptadas ao novo contexto peninsular
Operando com recortes
Procuraremos compreender como o espaço físico e imaginário foi ressignificado e organizado originando a Andaluzia. Mas, lembre-se: a História, enquanto um campo de conhecimento, opera a partir de recortes espaciais e temporais. Assim, nos centraremos no recorte espaço-temporal relativo ao reinado de Fernando III.
Construir a autoridade e legitimidade do rei Fernando III, significava usar referências presentes nas mentes das pessoas, organizando essas referências para construir ideias positivas sobre o rei, o que podemos chamar de imagens ou ideologia.
Segundo Marilena Chauí, na obra "O que é Ideologia", "a ideologia é um conjunto lógico, sistemático e coerente de representações (ideias e valores) e de normas ou regras (de conduta) que indicam e prescrevem aos membros da sociedade o que devem pensar, o que devem valorizar, o que devem sentir e como devem sentir, o que devem fazer e como devem fazer. Ela é, portanto, um corpo explicativo (representações) e prático (normas, regras, preceitos) de caráter prescritivo, normativo, regulador, cuja função é dar aos membros de uma sociedade dividida em classes uma explicação racional para as diferenças sociais, políticas e culturais, sem jamais atribuir tais diferenças à divisão da sociedade em classes, a partir das divisões na esfera da produção. Pelo contrário, a função da ideologia é a de apagar as diferenças como as de classes e de fornecer aos membros da sociedade o sentimento da identidade social, encontrando certos referenciais identificadores de todos e para todos, como, por exemplo, a Humanidade, a Liberdade, a Igualdade, a Nação ou o Estado"
Assim, Fernando III e seus escrivães, criaram uma série de memórias e tradições para administrar seu reino e súditos. A História oferecia registros do presente, e um conjunto de ensinamentos sobre o que deveria ser feito ou não.
Por isso, dizemos que vários espaços foram criados, pois, a partir desse processo de utilizar a interpretação do passado como tradição (legitimação) lugares e comportamentos sociais foram criados e reforçados.

Referência
CHAUI. Marilena de S. O que é ideologia. 13 ed. São Paulo: Brasiliense. 1983. p. 113-114.